sábado, 20 de março de 2010

O menino que cantava para o mar

Como quem não deseja provocar a cólera do mar, ele certamente sentava-se sozinho e calado olhava. Olhava até saber que era a hora da música começar. E como começa ? Ambos não sabíamos, apenas esperávamos o sinal. O mar era a primeira voz, e sempre será. Ao seu sinal ele começava a cantar, e eu ali distante, fechava os olhos e ouvia aquele dueto. A princípio, os assovios eram como quem canta pra dentro, a fim de não afrontar a imensa siberania do elemento líquido maior. Até que Ele, que é maior permitisse ficar silencioso e o outro pudesse finalmente subir o tom de seus ossovios. Em volta, como animais, os homens espalhavam-se pela escuridão, uma dança de vultos, cada qual tentando seduzir a sombra que mais lhe aprazia com sua indiferença. E ele lá, cantava e banhava-se na prata escuro-luzente do mar. Éramos dois ?