quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Mudanças


Mãe [Joana]  e Pai [José]

Sinceramente nunca consegui entender bem como se processava a relação entre meus pais. Aparentemente meu pai é o tipo de homem que gosta de mulheres "bonitas" ou seja, aquela beleza da televisão, e convenhamos que apesar de ser bonita (ao menos aos meus olhos) ela não corresponde a esses modelos de feminilidade impostos e exibidos pelos veículos de comunicação. 
Ao longo do tempo o relacionamento entre os dois foi evoluindo, mas nunca descobri ao certo o que o levou a morarem juntos... se meu nascimento ou se a necessidade de estarem juntos, se eles realmente se gostavam ou não.

De início a relação era meio brutal, por vezes chegando à agressão, em especial quando mudamos de bairro, por volta de 1993... 1994. Não sei ao certo se essa visão é certa, mas quando chegamos lá com o caminhão de mudança, estava chovendo, a rua era de um barro vermelho alaranjado que transformava a rua num verdadeiro lamaçal. Não havia muita coisa, mas nos 11 ou 12 anos que moramos por ali muita coisa foi mudando. Dentro e fora da rua, dentro e fora da casa.. dentro e fora de nós. Ali acontecia toda sorte de coisa. Foi lá que descobri meus primeiros amigos, minhas primeiras paixões, comecei a esboçar minhas primeiras opiniões e desenvolvi minha particularidade.  Meus pais e irmaõs, por processos diferentes também desenvolveram sua forma particular de ver e estar no mundo. Uns tentanto passar neutros, outros querendo ser vistos e outros  vingindo que isso não era necessário.

Eu vejo a casa antiga como um laboratório. Lá se processaram muitas coisas. Meus pais aprenderam a gostar de si, eu aprendi a me conhecer e foi lá verdadeiramente que me formei. Porém, quando saí de lá, apesar de triste, afinal de contas, lá estava toda minha vida até então, não senti mais necessidade de voltar lá. O mesmo acontece com a antiga casa onde morávamos. Apesar de ser bem perto de onde moramos agora, não vejo qualquer necessidade ou impulso de voltar lá. As paredes, os cheiros e as cores já não me dizem mais nada. Não vejo ali qualquer resquício de mim.

Na nova casa as coisas pareciam mais frescas, e de fato são. Evidente que nem todos os dias são alegres, felizes com um sol estúpido e um belo lago para fazermos pique-nique, mas isso faz parte da normalidade que nos é peculiar.