sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Quando eu ainda não era

Quando eu nasci, provavelmente às voltas das oito horas do dia seis de Maio me faltou o tino acertado dos primeiros elementos e do sétimo. Mas eu era forte. Era manhã, dia de domingo. Fato é que as lembranças aqui narradas são produtos de minha imaginação sempre ativa e de minha suspeita constante dos fatos que aparentemente se escondem nas pequenas coisas da vida, nos pequenos gestos e coisas. Mas continuando....


Era dia de domingo. Chovia e fazia sol na minha vida.Chovia porque romper à luz era custoso, e fazia sol pois ele sempre esteve feito, desde Hélios e Urano e o meu pulo para fora era apenas mais um símbolo para isso tudo. Nasci sob os auspícios de Touro, com Gêmeos ascendente. A minha lua se encontrava em Libra e eu estava lá; talvez eu soubesse disso tudo, mesmo não tendo consciência do significado desses códigos.

A minha vida transitava num sistema de coisas em que eu ainda era passivo,passivo não, reflexivo frente à toda ordem de coisas que me acontecia. De alguma forma eu era o Sol... e agora eu volto à sê-lo, com todo respeito ao Brilhante.

Nessa época, é preciso que se diga, eu ainda não era eu. Antes seria José Artur de Lima e Oliveira; mas quis a vida que eu não fosse essa coisa toda. E meu pai, num surto de inspiração e ousadia furtiva, para tristeza de minha mãe, deu-me de imediato em cartório o nome de Thiago de Lima Oliveira. Nome estranho esse, apesar de comum. É nome de toda gente. Depois de certo tempo descobri que eram nomes de judeus novos. Famílias de judeus da parte ocidental da Europa que correntes da Inquisição acabaram mudando-se para Portugal e para salvarem suas vidas precisaram abdicar de sua fé, e converterem-se ao cristianismo. Isso, apesar de não me ser inato, influenciou minha forma de ver o mundo e de estar nele.

Tive vários nomes... alguns dados, outros roubados, outros que eu mesmo me dei, por necessidade ou merecimento. Fato é que hoje eu volto a ser o sol, e me digo Heliodoros, a dádiva do Sol, e cá estou a resgatar minhas pérolas nesse vasto e transbordante mar que transcende viver e existir, e mesmo assim compreende-os em si.